Kids Wall Art Family Painting On Canvas By Leonid Afremov Studio — Family By The Lake

A essência da Igreja

Joel Oliveira
Crist’óCentro
Published in
4 min readMar 29, 2022

--

Lembrámos uma história de 2000 anos de promiscuidade entre a Igreja e os poderes e a cultura deste mundo, que dura até hoje e resulta em graves distorções. Estamos agora em melhor posição para mais facilmente entender quão crucial é a pergunta “o que é a Igreja?”.

Se pensarmos em Atos 2:42–47, a primeira descrição na Bíblia de uma comunidade de cristãos, o que vemos descrito? Qual o conceito que melhor encerra esta dinâmica que vemos os primeiros cristãos a viver?

42 Todos participavam fielmente no ensino dos apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações. 43 Toda a gente andava impressionada com o que se estava a passar, porque Deus fazia muitos sinais milagrosos e maravilhas por meio dos apóstolos. 44 Os crentes viviam unidos e punham em comum tudo o que possuíam. 45 Vendiam as suas propriedades assim como outros bens e dividiam o dinheiro entre todos, de acordo com as necessidades de cada um. 46 Reuniam-se diariamente no templo. Partiam o pão ora numa casa ora noutra, comendo juntos com alegria e simplicidade de coração. 47 Davam louvores a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. Cada dia que passava, o Senhor aumentava o número dos que recebiam a salvação. - Atos 2:42–47

Vemos nesta descrição uma comunidade de pessoas que vivem juntas, oram juntas, partilham tudo o que têm, se reúnem diariamente, estão profundamente unidas. O único conceito que reúne todos estes ingredientes é o conceito de família.

Mas não se trata aqui de uma família qualquer. O que vemos aqui é uma família cristocêntrica, porque é uma família reunida à volta de Cristo, o Cristo do ensino dos apóstolos, o Cristo da mesa e do partir do pão (uma alusão clara à Santa Ceia que remete para a obra sacrificial de Cristo na cruz), o Cristo das orações, o Cristo da generosidade, da hospitalidade, da gratidão, da alegria, da simplicidade, da missão. Ser Igreja é ser família, uma família onde Cristo está no centro de tudo.

Não que a Igreja não deva ser descrita por outras metáforas que também são bíblicas, como corpo, edifício, rebanho, etc. Mas a tese aqui proposta, aquilo que vemos claramente na Bíblia, é que a Igreja é, na sua essência, uma família; que família é a identidade primordial da Igreja; e que descurar essa realidade é fatal para nós cristãos enquanto indivíduos, para as nossas igrejas locais enquanto assembleias, e para todo o mundo, que precisa desesperadamente que a Igreja revele a natureza de Deus de uma forma fiel.

E não nos baseamos apenas nesta passagem de Atos para argumentar que a essência da Igreja é família: toda a revelação de Deus grita família. Para começar, Deus é Trindade, uma família em unidade perfeita, em que temos um Pai e um Filho, unidos no Espírito Santo. Alguém irá blasfemar e dizer que Deus como “Pai” e Jesus como “Filho” são metáforas ou construções? Não, Pai e Filho são essência e não construção. Assim como toda a criação que Deus criou à sua imagem, o ser humano, replicando o modelo da Trindade, é família. Adão e Eva constituíram a primeira família, iniciando a história de famílias que atravessaram gerações, como a família de Noé e a família de Abraão, em quem seriam abençoadas todas as famílias da terra. A história de Israel é uma história de famílias, começando nos patriarcas e estendendo-se até à linhagem real de David que veio a dar origem à encarnação do Filho de Deus — Filho de Deus, que veio dar a sua vida para que, a todos aqueles que cressem nele, fosse dado o poder de serem feitos filhos de Deus. FIlhos de Deus, cujo conjunto em todas as épocas e lugares, constitui a Igreja — a família de Deus. Não uma metáfora, não um símbolo, não uma construção, mas uma realidade essencial. Deus é família, Deus criou famílias, e Deus resgatou para si uma família.

É então o conceito de família cristocêntrica o quadro completo do puzzle que torna possível olharmos para cada peça e ver se pertence e onde melhor se encaixa. É a partir do conceito de família cristocêntrica que nos avaliamos e percebemos que tipo de igreja somos: uma família disfuncional ou uma família saudável.

Pelo facto do conceito de família ser tão central para o entendimento de Igreja, e por ser tão fácil para nós, influenciados por todas as ideias distorcidas sobre o significado de Igreja com que somos bombardeados, esquecermo-nos dessa centralidade, vamos acoplar muitas vezes as palavras: família/igreja-local ou família/Igreja-de-Cristo serão expressões recorrentes durante esta série de textos.

Para examinarmos a natureza da Igreja em profundidade, estabelecermos uma base sólida para a nossa avaliação de nós próprios enquanto Igreja e percebermos quais são na prática os critérios de avaliação, vamos voltar-nos para o livro da Bíblia que para William Barclay merece o título de “a Rainha das epístolas”, a carta de Paulo aos Efésios. Esta carta é conhecida pela sua abrangência — todo o plano de Deus passado em revista, desde antes da criação do mundo, até ao seu cumprimento em Cristo e resultando na criação de um único povo, uma nova sociedade, a família de Deus: a Igreja.

Portanto, já não são estrangeiros nem hóspedes. Fazem parte do povo santo de Deus e são membros da sua família. — Efésios 2:19

--

--